segunda-feira, 21 de março de 2011

ÍNTEGRA DO DISCURSO DO PRESIDENTE BARAK OBAMA NO RIO DE JANEIRO


Veja a íntegra do discurso de Obama no Rio
Presidente norte-americano arriscou palavras em português e elogiou a democracia brasileira.  Leia a íntegra
iG São Paulo | 21/03/2011 13:52
·         
·        A+
·        A-
Compartilhar:
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez um pronunciamento no Theatro Municipal do Rio de Janeiro no último domingo. O líder norte-americano falou por 21 minutos, elogiou o povo brasileiro e exaltou a transição democrática do Brasil, que, em sua visão,   deve ser modelo para o mundo árabe. 

Leia a íntegra do discurso de Barack Obama no Rio de Janeiro
:
Obama: "Alô, Cidade maravilhosa! (Aplausos.) Boa tarde, todo o povo brasileiro. (Aplausos.)
Desde o momento em que chegamos, as pessoas desta nação têm mostrado de forma encantadora à minha família a cordialidade e a generosidade do espírito brasileiro. Obrigado. Obrigado. (Aplausos.) E quero fazer um agradecimento especial a todos vocês por estarem aqui, porque soube que há um jogo de futebol do Vasco daqui a pouco. (Aplausos e vaias.) Botafogo - (Risos.) Então, sei que os brasileiros não abrem mão de seu futebol tão facilmente. (Risos.)

Uma das minhas primeiras impressões do Brasil foi um filme que vi com minha mãe quando criança, um filme chamado Black Orpheus (Orfeu Negro), que se passa nas favelas do Rio durante o Carnaval. Minha mãe adorava esse filme, com as suas músicas e danças tendo como pano de fundo belos morros verdes. E ele foi lançado primeiramente como peça teatral bem aqui no Teatro Municipal. Pelo que sei.
E minha mãe já se foi, mas ela nunca teria imaginado que a primeira viagem de seu filho para o Brasil seria como presidente dos Estados Unidos. Ela nunca teria imaginado isso. (Aplausos.) E eu nunca imaginei que este país seria ainda mais bonito do que no filme. Vocês são, como cantou Jorge Ben Jor, "Um país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza". (Aplausos.)
Vi essa beleza nas encostas em cascata, nos infindáveis quilômetros de areia e mar e no encontro vibrante e diverso de brasileiros que vieram aqui hoje.
E temos um grupo maravilhosamente diversificado. Temos cariocas e paulistas, baianas, mineiros. (Aplausos.) Temos homens e mulheres das cidades e do interior e tantos jovens aqui que são o futuro desta grande nação.
Ontem, estive com a admirável nova presidente de vocês, Dilma Rousseff, e conversamos sobre como podemos fortalecer a parceria entre nossos governos. Mas, hoje, quero falar diretamente ao povo brasileiro sobre como podemos fortalecer a amizade entre nossas nações. Vim aqui para compartilhar algumas ideias porque quero falar dos valores que partilhamos, das esperanças que temos em comum e da diferença que podemos fazer juntos.
E quando pensamos sobre isso, as jornadas dos Estados Unidos da América e do Brasil começaram de maneira semelhante. Nossas terras são ricas de criações de Deus, lares de povos antigos e indígenas. As Américas foram descobertas por homens vindos de além-mar que buscavam um Novo Mundo e colonizadas por pioneiros que avançaram para o Oeste, atravessando vastas fronteiras. Tornamo-nos colônias reivindicadas por coroas distantes, mas logo declaramos a nossa independência. Acolhemos depois levas de imigrantes em nossas plagas e, por fim, depois de uma longa luta, nos livramos da mancha da escravidão da nossa terra.
Os Estados Unidos foram a primeira nação a reconhecer a independência do Brasil e a estabelecer postos diplomáticos neste país. O primeiro chefe de Estado a visitar os Estados Unidos foi o líder do Brasil Dom Pedro II. Na Segunda Guerra Mundial, nossos bravos homens e mulheres lutaram lado a lado por liberdade. E, depois da guerra, as nossas duas nações lutaram para conseguir as bênçãos plenas da liberdade.
Nas ruas dos Estados Unidos, homens e mulheres marcharam e sangraram e alguns morreram para que todos os cidadãos pudessem usufruir as mesmas liberdades e oportunidades - independentemente de aparência ou origem.
No Brasil, vocês lutaram contra duas décadas de ditadura pelo mesmo direito de serem ouvidos - o direito de não terem medo, de não passarem por privações. E, no entanto, levou anos para que a democracia e o desenvolvimento se firmassem, e milhões sofreram em consequência disso.
Mas estou aqui hoje porque esses dias já se foram. O Brasil é hoje uma democracia florescente - um lugar onde as pessoas são livres para expressar as suas ideias e escolher seus líderes; onde um menino pobre de Pernambuco pode ascender do chão de fábrica de uma metalúrgica para o cargo mais alto do Brasil.
Na última década, os progressos alcançados pelo povo brasileiro inspiraram o mundo. Mais da metade desta nação agora é considerada de classe média. Milhões foram tirados da pobreza. Pela primeira vez, a esperança está voltando a lugares onde o medo prevaleceu por muito tempo. Vi isso hoje quando visitei a Cidade de Deus. (Aplausos.)
Não se trata apenas dos novos esforços de segurança e programas sociais - e quero parabenizar o prefeito e o governador pelo excelente trabalho que estão fazendo. (Aplausos.) Mas é também uma mudança de atitude. Como um jovem morador disse: "As pessoas têm de olhar para as favelas não com pena, mas como uma fonte de presidentes e advogados e médicos, artistas e pessoas com soluções." (Aplausos.)
A cada dia que passa, o Brasil é um país com mais soluções. Na comunidade global, vocês deixaram de depender da ajuda de outras nações e passaram a ajudar a combater a pobreza e a doença onde quer que elas existam. Vocês desempenham um papel importante em instituições globais que protegem nossa segurança comum e promovem a nossa prosperidade comum. E vocês vão receber o mundo quando a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos vierem para o Rio de Janeiro. (Aplausos.)
Agora, vocês talvez saibam que esta cidade não era a minha primeira escolha para as Olimpíadas. (Risos.) Mas se os jogos não puderam ser realizados em Chicago, então não há lugar melhor para mim do que aqui no Rio. E pretendo voltar em 2016 para ver o que vai acontecer. (Aplausos.)
Por muito tempo, o Brasil foi uma nação cheia de potencial, mas prejudicada pela política, tanto em casa como no exterior. Por muito tempo, vocês foram chamados de país do futuro, tendo de esperar por um dia melhor que estava sempre depois da esquina.
Meus amigos, esse dia finalmente chegou. E este não é mais o país do futuro. O povo do Brasil deve saber que o futuro chegou. Está aqui agora. E é hora de aproveitá-lo. (Aplausos.)
Agora, os nossos países nem sempre concordaram em tudo. E, assim como muitas nações, teremos as nossas diferenças de opinião. Mas estou aqui para dizer a vocês que o povo americano não apenas reconhece o sucesso do Brasil - torcemos para o sucesso do Brasil. Ao enfrentarem os muitos desafios que ainda se apresentam, em casa e também no exterior, vamos ficar juntos - não como parceiros sênior e júnior, mas como parceiros iguais, unidos em um espírito de interesses mútuos e respeito mútuo, comprometidos com o progresso que sei que podemos construir juntos. (Aplausos.) Estou confiante de que conseguiremos. (Aplausos.)
Juntos podemos fazer avançar nossa prosperidade comum. Como duas das maiores economias do mundo, trabalhamos lado a lado durante a crise financeira para restaurar o crescimento e a confiança. E para manter nossas economias crescendo, sabemos o que é necessário nas duas nações. Precisamos de uma força de trabalho capacitada e instruída - e é por isso que empresas americanas e brasileiras se comprometeram a ajudar a aumentar o intercâmbio de estudantes entre as duas nações.
Precisamos de um compromisso com inovação e tecnologia - e é por isso que concordamos em ampliar a cooperação entre nossos cientistas, pesquisadores e engenheiros.
Precisamos de infraestrutura de nível internacional - é por isso que as empresas americanas querem ajudá-los a construir e preparar esta cidade para o sucesso olímpico.
Em uma economia global, os Estados Unidos e o Brasil devem ampliar o comércio, ampliar os investimentos, de modo a criar novos empregos e novas oportunidades nas duas nações. E é por isso que estamos trabalhando para derrubar barreiras para fazer negócios. É por isso que estamos construindo relações mais próximas entre nossos trabalhadores e nossos empreendedores.
Juntos podemos também promover segurança energética e proteger nosso belo planeta. Como duas nações comprometidas com economias mais verdes, sabemos que a solução definitiva para nossos desafios em energia reside na energia limpa e renovável. É por isso que metade dos veículos neste país pode rodar com biocombustível, e a maior parte da eletricidade do país vem da energia hídrica. É também por isso que, nos Estados Unidos, demos impulso a um novo setor de energia limpa. E é por isso que os Estados Unidos e o Brasil estão criando novas parcerias na área de energia - para compartilhar tecnologias, criar novos empregos e deixar para nossos filhos um mundo mais limpo e mais seguro do que aquele que encontramos. (Aplausos.)
Juntas, nossas duas nações podem também ajudar a defender a segurança de nossos cidadãos. Estamos trabalhando juntos para deter o narcotráfico que destruiu tantas vidas neste continente. Buscamos a meta de um mundo sem armas nucleares. Estamos trabalhando juntos para melhorar a segurança nuclear em nosso continente. Da África ao Haiti, estamos trabalhando lado a lado para combater a fome, as doenças e a corrupção que podem debilitar uma sociedade e tirar a dignidade e as oportunidades dos seres humanos. (Aplausos.) E como dois países que foram grandemente enriquecidos por nossa herança africana, é absolutamente vital estarmos trabalhando com o continente africano para ajudá-lo a se reerguer. Isso é algo que devemos nos comprometer a realizar juntos. (Aplausos.)
Hoje, estamos dando também ajuda e apoio ao povo japonês em sua hora de maior necessidade. Os laços que ligam nossas nações ao Japão são fortes. O Brasil abriga a maior população japonesa fora do Japão. Nos Estados Unidos, forjamos uma aliança de mais de 60 anos. O povo japonês é um dos nossos amigos mais próximos, e rezaremos com eles, estaremos ao lado deles e os ajudaremos na reconstrução até que passe a crise. (Aplausos.)
Nesses e em outros esforços para promover paz e prosperidade no mundo todo, os Estados Unidos e o Brasil são parceiros não apenas porque compartilhamos uma história nem apenas por estarmos no mesmo continente; não apenas porque compartilhamos laços comerciais e culturais; mas também porque compartilhamos certos valores e ideais duradouros.
Acreditamos no poder e na promessa da democracia. Acreditamos que nenhuma outra forma de governo é mais eficiente em promover crescimento e prosperidade que alcance todo ser humano - não somente alguns, mas todos. E aqueles que argumentam o contrário, aqueles que argumentam que a democracia impede o progresso econômico, devem encarar o exemplo do Brasil.
Os milhões neste país que passaram da pobreza para a classe média não o poderiam fazer em uma economia fechada controlada pelo Estado. Vocês estão prosperando como povo livre, com mercados abertos e um governo que responde a seus cidadãos. Vocês estão provando que a meta da justiça social e da inclusão social pode ser atingida mais facilmente por meio da liberdade - que a democracia é a maior parceira do progresso humano. (Aplausos.)
Acreditamos também que, em nações tão grandes e diversificadas como as nossas, moldadas por gerações de imigrantes de todas as raças, religiões e origens, a democracia oferece mais esperança de que cada cidadão seja tratado com dignidade e respeito, de que possamos resolver nossas diferenças de forma pacífica e encontrar força na nossa diversidade.
Temos essa experiência nos Estados Unidos. Sabemos como é importante ser capaz de trabalhar em conjunto - embora discordemos com frequência. Sei que a forma de governo escolhida por nós pode ser vagarosa e confusa. Compreendemos que a democracia deve ser constantemente fortalecida e aperfeiçoada com o tempo. Sabemos que nações diferentes seguem caminhos diferentes para cumprir a promessa da democracia. E entendemos que nenhuma nação deveria impor sua vontade a outra.
Mas também sabemos que há certas aspirações compartilhadas por todos os seres humanos: todos nós queremos ser livres. Todos nós queremos ser ouvidos. Todos nós ansiamos viver sem medo e sem discriminação. Todos nós desejamos escolher nossa forma de governo. E todos nós queremos moldar nosso próprio destino. Esses não são ideais americanos ou brasileiros. Não são ideais ocidentais. São direitos universais, e devemos apoiá-los em todos os países. (Aplausos.)
Hoje vemos a luta por esses direitos se desenrolando por todo o Oriente Médio e Norte da África. Vimos uma revolução nascida do anseio por dignidade humana básica na Tunísia. Vimos manifestantes pacíficos chegando à Praça Tahrir - homens, mulheres, jovens e velhos, cristãos e muçulmanos. Vimos o povo da Líbia tomar uma posição corajosa contra um regime determinado a agredir seus próprios cidadãos. Em toda a região, vimos jovens erguerem-se - uma nova geração exigindo o direito de determinar seu próprio futuro.
Desde o início, deixamos claro que a mudança que eles buscam deve ser conduzida por seu próprio povo. Mas nossas duas nações, Estados Unidos e Brasil, duas nações que lutaram durante muitas gerações para aperfeiçoar sua própria democracia, sabem que o futuro do mundo árabe será determinado por seu povo.
Ninguém pode dizer com certeza qual será o resultado dessa mudança, mas eu sei que mudança não é algo que devemos temer. Quando jovens insistem que as correntes da história estão em movimento, os ônus do passado podem ser removidos. Quando homens e mulheres clamam por direitos humanos de forma pacífica, a humanidade compartilhada por nós é aperfeiçoada. Toda vez que a luz da liberdade é acesa, o mundo se torna um lugar mais brilhante.
Esse é o exemplo do Brasil. Esse é o exemplo do Brasil. (Aplausos.) Brasil - país que demonstra que uma ditadura pode se tornar uma democracia próspera. Brasil - país que demonstra que a democracia traz ao mesmo tempo liberdade e oportunidade para seu povo. Brasil - país que demonstra como o clamor por mudança iniciado nas ruas pode transformar uma cidade, transformar um país, transformar o mundo.
Décadas atrás, vindo diretamente do lado de fora desse teatro, na Praça da Cinelândia, o clamor por mudança foi ouvido no Brasil. Estudantes e artistas e líderes políticos de todas as vertentes reuniram-se com cartazes que diziam "Abaixo a ditadura. O povo no poder". Suas aspirações democráticas não seriam realizadas senão anos mais tarde, mas uma das jovens brasileiras participante do movimento daquela geração seguiria em frente para mudar para sempre a história deste país.
Filha de imigrante, sua participação no movimento levou-a à detenção, prisão e tortura nas mãos do seu próprio governo. E, portanto, ela sabe como é viver sem os mais básicos direitos humanos pelos quais muitos lutam atualmente. Mas ela também sabe o que é perseverar. Ela sabe o que é superar - porque hoje essa mulher é a presidente de seu país, Dilma Rousseff. (Aplausos.)
Nossas duas nações enfrentam muitos desafios. No caminho à frente, certamente encontraremos muitos obstáculos. Mas, no final, é a nossa história que nos dá esperança de um amanhã melhor. É saber que homens e mulheres que vieram antes de nós triunfaram diante de dificuldades maiores do que estas - de que vivemos em lugares onde pessoas comuns fizeram coisas extraordinárias.
Foi essa noção de possibilidade e de otimismo que primeiro atraiu pioneiros para este Novo Mundo. São essas coisas que unem nossas nações como parceiras neste novo século. É por isso que acreditamos, nas palavras de Paulo Coelho, um de seus escritores mais famosos: "Com a força de nosso amor e de nossa vontade, podemos mudar nosso destino, bem como o destino de muitos outros."
Muito obrigado. Obrigado. Que Deus abençoe nossas duas nações. Muito obrigado. (Aplausos.)"

Nenhum comentário:

Postar um comentário